domingo, 8 de novembro de 2009

"O que é que o Mercadinho tem?" [Final]

Espero que todos tenham gostado da série e continuem acompanhando minhas postagens, pois são feitas com muita vontade e dedicação. Nesta ultima matéria sobre o Mercadinho vou falar de um dos mais famosos e polêmicos locais da feira, além de finalizar falando das pessoas que freqüentam o mercado. Não se esqueçam de comentar e de deixar suas sugestões para os próximos post’s.

Troca – troca

É muito comum em feiras de todo o Brasil a existência dos troca-trocas, no mercadinho em Imperatriz não poderia ser diferente. Esse tipo de comércio consiste em comprar, vender e principalmente trocar qualquer tipo de mercadoria e no mercadinho se troca quase tudo.
Neste setor da feira encontra-se uma variedade de produtos que é de impressionar. São TVs, aparelhos de som, microondas, geladeiras, fogões, celulares, computadores, carros, motos, bicicletas, brinquedos, relógios e muitas outras mercadorias que são vendidas a preços acessíveis negociados no ato da compra ou trocadas por outro objeto de valor equivalente.
José de Ribamar Bezerra Lima trabalha no mercadinho desde 1979 e conta que já viu de quase tudo enquanto trabalhava no troca-troca. “Outro dia um cara me apareceu com um macaco prego querendo trocar numa TV de 14 polegadas. Não fizemos negócio porque fiquei com medo de ter problemas como o IBAMA, mas depois ele trouxe dois cachorros de raça e tudo deu certo, aqui a gente troca até mulher de 50 anos por duas de 25”, conta com bom humor característico de quem trabalha nesse setor.
José de Ribamar conta ainda que o único ponto negativo do troca-troca são os problemas com a polícia que volta e meia realiza operações fechando comércios e apreendendo mercadorias que não tem os documentos legalizados, mas ele ressalta que quem não deve não teme e por isso já está a 30 anos neste negócio, que para ele é um vício. “Isso aqui é como uma droga, você começa e não consegue mais parar. Certa vez fiz uma viagem que era para durar dois meses, não fiquei fora nem 20 dias. Eu amo isso aqui”, conclui.


O povo


Maria Augusta Félix é cliente do mercadinho há 40 anos e diz que vai todos os dias lá para fazer suas compras. Ela conta que já é amiga da maioria dos comerciantes e até quando não tem dinheiro sai de sacolas cheias. “Venho aqui quando estou feliz, quando estou triste e até mesmo quando estou doente”, ressalta.

Mas se Dona Maria vai ao mercadinho quando está doente não é por outro motivo. Lá também se encontra uma incrível variedade de remédios naturais para doenças que prometem curar de uma simples gripe ao câncer. Além destes, vendem-se também plantas, sementes, frutos e raízes que prometem verdadeiros milagres como a garrafada “chama marido”, facilmente encontrada nas barracas especializadas que tem como campeão de vendas o Viagra natural, feito de uma série de misturas prometendo fazer o casamento “pegar fogo”.

E assim é este lugar tão importante da nossa cidade. O Mercadinho é um lugar de cheiro, cores e sabores, mas é principalmente um local de histórias, lembranças e esperanças de um povo trabalhador e persistente que “como todo brasileiro não desiste nunca”. Só precisa ser mais valorizado pelos governantes e pela própria população como um bem cultural de Imperatriz. Vamos dar valor ao que é nosso, só assim que é de fora vai valorizar também.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"O que é que o Mercadinho tem?" [3]

Apesar dos poucos comentários percebi que as visitações dos textos sobre o mercadinho estão sendo muito boas. Nesta terceira parte vou comentar um pouco sobre o artesanato, cultura do local e a moda desse verdadeiro universo que existe no coração da cidade de Imperatriz.

Artesanato e cultura


As bancas de artesanato são em número bem reduzido no mercadinho. De acordo com a administração do local, isso se dá devido a pouca divulgação turística que a feira tem. As barracas que trabalham nessa área normalmente vendem artigos artesanais que são de utilidade diária de muitas pessoas que vivem da pesca e da agricultura. São coufos, quibanos, jacás, colares, cestas, tapitis, abanos, potes de barro, vassouras, espetos e outros objetos produzidos por artistas que utilizam o barro, madeira, pedra, metal, palha, coco, cordas e o couro como matérias-primas.
A música também é algo muito presente nas ruas do mercadinho. Além do comércio de CD’s e DVD’s piratas, normalmente vistos, existe a Rádio Cipó, que faz comercial do comércio daquele setor e, a pedidos da população, toca muito forró e música brega.
Assim como em todas as feiras nordestinas é comum também encontrar artistas que tocam algum instrumento e cantam música de gosto popular, ou ainda, alguém imitando o cantor Michael Jackson, ou fazendo mágicas em troca de moedas, que são dadas pelo público impressionado com o trabalho desses artistas.

A moda do mercado


Numa organização que segundo Agenor Jesus Almeida, 74 anos, aconteceu naturalmente, uma área do mercadinho é dedicada exclusivamente a venda de roupas, calçados, bijuterias e acessórios. Agenor conta que na década de 1970 ele era um dos poucos que vendia confecções naquela área e por isso não tinha lugar fixo. Chegava bem cedo, armava uma lona no chão e pronto a mercadoria estava exposta. Seus principais clientes na época eram as pessoas que trabalhavam no próprio mercadinho e que não tinham tempo de se deslocar até o centro da cidade para fazer compras. “A moda aqui segue o ritmo do que passa na TV, a diferença é que é mais barato que em outros lugares. Daqui eu tirei o dinheiro para criar meus quatro filhos e hoje o mais velho trabalha aqui comigo”, afirma.

Andando pelos corredores não é difícil encontrar histórias de famílias inteiras que passaram o trabalho no mercadinho de geração para geração. “O gosto por esse lugar parece correr nas veias, eu desde pequena ficava fascinada vendo minha mãe vender os calçados aqui”, declara Maria Zuleide de Sousa, 17 anos, uma das mais jovens do setor de moda que afirma acompanhar a mãe desde os oito anos de idade.
“Eu sempre comprei roupas e calçados aqui no mercadinho e ninguém nunca achou as roupas que uso e que vendo cafonas”, ressalta Ana Priscila do Nascimento, cliente de Zuleide que compra confecções no mercadinho para revender na cidade de Dom Elizeu, no Estado do Pará.


Comentem e aguardem o próximo post, nele vou falar sobre o famoso troca-troca!